5 de setembro de 2016

Valle de Passos. Uma herança que vai dar bom vinho

Carla Correia e Lurdes Brás, mãe e filha, estão a investir meio milhão em 51 hectares para criar uma nova marca vinícola em Valpaços

Cinquenta campos de futebol plantados com vinha não são uma visão frequente nas fragmentadas terras transmontanas de Valpaços. Muito menos nas mãos de uma jovem gestora, Carla Correia, de 35 anos, que decidiu investir na vitivinicultura, com a mãe e sócia, Lurdes Brás, de 58 anos. A recente marca Valle de Passos engarrafou os primeiros vinhos há um ano, mas tem um ; potencial de meio milhão de garrafas de qualidade dentro de apenas oito anos. À semelhança de outros miúdos da região, aos 19 anos Carla Correia teve de ir estudar para o Porto. Começou pelo curso de Psicologia, mas as saídas profissionais não surgiram. “Foi na altura do boom de licenciados em Psicologia, não havia saída para todos”, recorda. Decidiu, então, tirar um mestrado em Gestão de Marketing, a que se seguiu um MBA. “Fui trabalhando em várias coisas, estive 13 anos a viver no Porto, mas nada que me entusiasmasse”, relata a hoje especialista em burocracias como certificação do vinho (Denominação de Origem Protegida) ou a obtenção de apoios para jovens agricultores e para reestruturação e reconversão da vinha.

Entre terras que herdou da família e outras que comprou com a mãe, juntou 51 hectares – 21 adquiridos logo após um incêndio no final de 2013, replantados no início de 2014; três de vinhas velhas com mais de 50 anos; outros quatro hectares já reestruturados e ainda 10 que faltam reestruturar. Ao todo, já investiram meio milhão de euros e ainda faltam dois milhões para os projetos da adega própria e de uma unidade de enoturismo, a concluir nos próximos quatro anos, sempre com recurso aos apoios oficiais e também à banca. “Temos feito as coisas aos bocadinhos, mas chegaremos lá”, garante Lurdes Brás, proprietária ainda de um negócio de climatização e energias renováveis. A preocupação com a ecologia está, aliás, presente em todas as vertentes do projeto. “Temos o sistema de rega gota a gota alimentado por painéis solares e queremos implementar soluções semelhantes na futura adega e no hotel de charme”, explica. A jovem psicóloga gestora é também uma futura enóloga: dentro de um ano, concluirá a formação na Universidade Católica do Porto, bem a tempo de iniciar os vinhos mais trabalhados que as uvas, para já, ainda não aconselham. A formação é ainda uma forma de, num mundo que persiste dominado por homens, impor a liderança. “É verdade que ainda olham as mulheres neste meio com desconfiança, pior ainda quando parecem tão jovens como sei que pareço”, lamenta Carla, disposta a mudar o paradigma. “Este foi o segundo ano de vinho DOP branco e tinto, da Quinta de Valle de Passos [35 mil garrafas]. Para o ano, já vamos ter a produção das vinhas novas e vamos começar a fazer experiências”, desvenda Carla, calculando que, em 2015, tenham sido as maiores vendedoras de uvas da região, com cerca de 60 toneladas comercializadas. E apesar de recente, a marca nasceu de olhos postos na exportação. Participou em feiras internacionais, cá e no Brasil, e já alinhou contactos para exportar para EUA, Canadá, Brasil, Reino Unido e Alemanha. Por cá, podem ser encontrados em espaços como a Garrafeira Nacional, em Lisboa, ou na Garage Wines, em Matosinhos, bem como à mesa de restaurantes como o Bulls (Matosinhos), o Manjar do Marquês (Pombal) ou o Solar dos Presuntos (Lisboa), entre outros.

Fontes: https://www.dinheirovivo.pt/fazedores/valle-de-passos-uma-heranca-que-vai-dar-bom-vinho/

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