29 de abril de 2017

Valle de Passos. O vinho que mãe e filha “plantaram” em Trás-os-Montes

A dupla é improvável: mãe e filha arregaçaram mangas, reestruturaram 50 hectares de vinhas e criaram uma nova marca de vinhos que volta a emprestar fama a Valpaços, na região de Trás-os-Montes.

“Recordo-me das marcas [na pele] de cair na vinha”, diz Carla Correia, num tom de voz que denota alguma saudade. A produtora de vinhos está sentada à mesa de um restaurante e, entre perguntas e respostas, vai olhando para o casario lisboeta iluminado pela luz elétrica da noite. O cenário é bem distinto daquele em que cresceu. Já passaram vários anos desde que a família se reunia para fazer vinho a partir das uvas dos avós, que cresciam nos socalcos do Douro. Aos cinco anos, aquela que é hoje o rosto da empresa Valle de Passos já fazia parte da vindima e aos “sete ou oito” pisava pela primeira vez a polpa e as grainhas das uvas nos lagares caseiros: ainda há lembrança do mosto inicialmente frio e espesso colado às pernas franzinas de quem é tenro em idade.

Hoje, Carla Correia soma 36 anos de vida e uma paixão pelo vinho que cresce a cada dia que passa. Apesar de uma carreira marcada pelas mais diversas experiências, foi precisamente no domínio de Baco que acabou por criar raízes que só agora começam a dar frutos. Na companhia da mãe e sócia Lurdes Brás, a produtora formada em psicologia fez nascer a Valle de Passos: no final de 2013, a dupla reestruturou cerca de 50 hectares de vinha, na região de Trás-os-Montes, que chegaram a pertencer a uma sociedade. Dali arrancaram com a produção de vinhos tintos, entre os 200 e os 250 metros de altitude, e de vinhos brancos, a 450-500 metros.
 
Nem sempre é fácil trabalhar lado a lado com quem a viu crescer, brinca a produtora, mas Carla dá por si a agradecer a oportunidade, vezes sem conta, de tomar todas as decisões em conjunto com a mãe.
 
Mãe e filha estão à frente de uma marca de vinhos, nascida em Trás-os-Montes. (Leonel de Castro/Global Imagens)

“Os solos são semelhantes ao Douro”, diz, explicando que por estas bandas há mais frescura devido à altitude e maior acidez por causa da amplitude térmica. “Em anos excecionais não é preciso fazer nada”, defende, para depois explicar que esta é uma produção integrada, que apela à menor intervenção possível na vinha. Com o contributo dos enólogos consultores, Carlos Magalhães e Manuel Vieira, que também trabalham com a empresa Caminhos Cruzados, a primeira colheita, de 2014, chegou ao mercado um ano depois. Ao todo, existem cinco referências de vinho, com a marca Valle de Passos a fazer as vezes de uma gama intermédia que, para breve, espera companhia. “A gama superior está no forno.”

Os vinhos e seus rótulos — a fazer lembrar uma imagem romana esculpida em mármore — representam um conjunto de homenagens: à terra onde as vinhas crescem e os vinhos nascem, em Valpaços, na região de Trás-os-Montes, mas também às mulheres no vinho. No concelho de Valpaços encontra-se uma das maiores coleções, no mundo, de lagares de origem romana cravados na rocha. E, nem de propósito, daí sairia em tempos idos um vinho doce de menor teor alcoólico, de nome “passum”, de especial agrado do público feminino.

Viosinho, tinta amarela, bastardo e códega do larinho, as três últimas com especial tradição na região, são algumas das castas que compõem os diferentes blends, sendo que todos os vinhos levam no rótulo a indicação “Denominação de Origem Controlada”. Por enquanto, os vinhos tintos (que trazem à boca toques vegetais e, também, frutos vermelhos), brancos e rosé são vinificados num espaço alugado, mas há planos para construir uma adega própria num futuro próximo. Em Valpaços, Valle de Paços é o começo de uma nova aventura.

Fontes: http://observador.pt/2017/04/27/valle-de-passos-o-vinho-que-mae-e-filha-plantaram-em-tras-os-montes/

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